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Os primeiros 100 dias do governo trump

5 de maio de 2025

imagem: ABED

texto: Maria Luiza Falcão Silva

 

Há 100 dias, Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, marcando um período de profundas incertezas e retrocessos na política norte-americana. Este momento, serve como um indicador do rumo que o governo Trump pretende seguir, sem respeito pelos direitos humanos, sem respeito ao meio ambiente, sem respeito a convenções, tratados e contratos internacionais, sem respeito à Democracia.
Entre as ações mais controversas, estão as ordens executivas relacionadas à imigração, que afrontam a dignidade de milhares de pessoas, além da tentativa de reformar o sistema de saúde de forma a beneficiar as grandes corporações, deixando milhões de americanos sem acesso a cuidados essenciais. Há uma forte pressão para reduzir regulações ambientais e incentivar o uso de combustíveis fósseis, o que coloca em risco o futuro do planeta Terra.
 Não causou qualquer surpresa. Os slogans de campanha diziam tudo: “América First”! “Make América Great Again”. Eleito, Trump rompe acordos comerciais de forma a favorecer interesses corporativos americanos, impõe impensáveis tarifas de até três dígitos a importações de antigos parceiros comerciais bagunçando o comércio mundial e a ordem econômica internacional, promove uma política de fortalecimento das forças armadas que aumenta o risco de conflitos.

O momento é confuso.  A reforma do Sistema Bretton Woods, construído ao final da Segunda Guerra Mundial, que favoreceu a hegemonia norte-americana, há muito vinha sendo questionada pelos países em desenvolvimento que sempre se consideraram em posição de submissão e reclamavam maior participação. Com certeza não é essa reforma que Trump e seus asseclas têm em mente.   
“Os primeiros 100 dias do segundo mandato do presidente Trump causaram mais danos à democracia americana do que qualquer outra coisa desde o fim da Reconstrução”, ressaltou O Conselho Editorial do New York Times na quinta-feira, primeiro de maio.
A "Reconstrução" nos Estados Unidos refere-se ao período após a Guerra Civil Americana (1861-1865), de 1865 a 1877, durante o qual o país tentou restaurar o Sul, que havia se separado da União, e integrar os afro-americanos à sociedade.  Foi um período complexo e conturbado da história dos EUA durante o qual houve a abolição da escravidão, a reintegração dos estados confederados e os esforços para garantir direitos civis aos afro-americanos.
O Conselho Editorial é composto por líderes do departamento de Opinião do Times, que se baseiam em pesquisa, debate e expertise individual para chegar a uma visão compartilhada sobre questões julgadas importantes e dignas de um pronunciamento aos seus leitores.
De forma resumida, o editorial de 01/05 aponta o caos desses três meses iniciais de governo, argumentando que as ações de Trump, além de representarem uma ameaça sem precedentes à democracia americana, desde a segunda metade do século XIX, buscam consolidar um poder presidencial autocrático, que ignora freios e contrapesos constitucionais. Os analistas identificam cinco pilares da democracia sob ataque:

1. Separação de poderes: Trump desrespeita o Judiciário e o Congresso, ignorando ordens judiciais e leis aprovadas de forma bipartidária pelo Congresso e mantidas por unanimidade pela Suprema Corte (como a venda do TikTok). Trump insultou juízes chamando-os de lunáticos e radicais e pediu o impeachment daqueles com quem discorda. Ele e seus aliados criticaram juízes de forma tão dura e pessoal que muitos estão preocupados com sua segurança física.
2. Devido processo legal: Decisões unilaterais, como deportações sumárias de imigrantes sem direito à defesa, violam procedimentos estabelecidos.
Ele demitiu funcionários federais sem o aviso prévio de 30 dias exigido por lei. Tentou cortar verbas universitárias alegando antissemitismo, sem seguir os procedimentos estabelecidos para tais casos de direitos civis. Emitiu ordens executivas punindo escritórios de advocacia por irregularidades inventadas.
A mais flagrante negação do devido processo legal foi a deportação de 238 imigrantes para uma notória prisão em El Salvador. As autoridades o fizeram às pressas durante um fim de semana em março, invocando a Lei dos Inimigos Estrangeiros, uma lei que não era usada desde a Segunda Guerra Mundial.
3. Justiça igualitária: Uso político do Departamento de Justiça para proteger aliados (ex.: perdões a manifestantes de 6 de janeiro) e perseguir opositores (ex.: investigação à ActBlue). A investigação é um exercício de poder político bruto, com o objetivo de impedir que o partido da oposição vença as eleições. E o inquérito do ActBlue faz parte de um padrão. Trump se inspirou no manual de aspirantes a autocratas, como o primeiro-ministro Viktor Orban, da Hungria, e o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, que usam o poder de proteger o governo como um instrumento contra seus oponentes políticos
4. Liberdade de expressão e imprensa: O Sr. Trump gosta de dizer que "trouxe de volta a liberdade de expressão à América". O Conselho Editorial aponta várias circunstâncias que comprovam que isso é apenas retórica: “A Academia Naval removeu centenas de livros de sua biblioteca, principalmente sobre raça, escravidão ou gênero, incluindo um romance de Geraldine Brooks, um livro de memórias de Maya Angelou e histórias dos acadêmicos de Harvard Randall Kennedy e Imani Perry . Trump também processou a ABC, a CBS e o The Des Moines Register por reportagens das quais não gostou. Ele usou ordens executivas para punir pessoas por coisas que disseram, incluindo Chris Krebs, um funcionário de segurança cibernética de seu primeiro mandato que reconheceu a legitimidade das eleições de 2020.”
O editorial enfatiza, também, que “entre os maiores alvos estão imigrantes que criticaram publicamente Israel. O Departamento de Estado cancelou vários de seus vistos. Em um caso, agentes mascarados prenderam Rumeysa Ozturk, uma estudante turca de pós-graduação na Universidade Tufts, autora de um ensaio de opinião pró-palestina no jornal estudantil. Sr. Trump descaracteriza discursos legítimos como falsos ou antiamericanos e usa poderes governamentais para disciplinar o orador. A mensagem para todos os outros é: cuidado com o que você diz.”
O quinto pilar relaciona-se com enriquecimento ilícito que apadrinha Trump, familiares e amigos.
5. Governo para o povo: Enriquecimento pessoal via esquemas de criptomoedas ($Trump/$Melania) e favorecimento de aliados, corroendo a integridade governamental.

O Conselho Editorial do NYT defende uma oposição estratégica a partir da construção de uma coalizão ampla (conservadores, progressistas, religiosos, seculares etc.). Como exemplos positivos citam a resistência legal de Harvard, que combinou autocrítica com firmeza contra exigências absurdas, e decisões judiciais ponderadas da Suprema Corte, que limitaram ações presidenciais.

O editorial sugere que como Trump está enfraquecido politicamente (aprovação em queda), sua impopularidade pode dificultar seu projeto autoritário, e faz um apelo à defesa da democracia pelos norte-americanos: “Os últimos 100 dias feriram este País, e não há garantia de que nos recuperaremos totalmente. Mas ninguém deve desistir. A democracia americana recuou antes, durante a era pós-Reconstrução, as leis de Jim Crow, o Pânico Vermelho, Watergate e outros períodos. Ela se recuperou não porque sua sobrevivência fosse inevitável, mas porque os americanos — incluindo muitos que discordavam uns dos outros em outros assuntos — lutaram bravamente e com inteligência pelos ideais deste país. Esse é o nosso dever hoje”, conclui O Conselho Editorial do New York Times.
Trump é narcisista e neofacista. Elogia seu governo dizendo que é o "melhor início de 100 dias de qualquer presidente na história", mas quase todas as análises de especialistas e comentaristas na mídia internacional e na dos Estados Unidos avaliam no sentido oposto: os primeiros três meses do segundo mandato do Sr. Trump foram caóticos sob quase todos os aspectos, marcados por retrocessos, conflitos e muitas controvérsias. Sua postura de intolerância e autoritarismo preocupa a sociedade americana e causa medo e insegurança ao mundo como um todo.

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