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Católicos de Trump anunciam cisma contra o novo Papa

22 de maio de 2025

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imagem: Mihai Cauli

texto:  Halley Margon

 

Se acontecer de novo, como anunciado pelo principal porta-voz dos católicos trumpistas, Steve Bannon, não será a primeira vez. Já houve imperadores querelando e até mandando assassinar Papas … “Dentro de dez anos haverá um cisma na Igreja Católica”, garantiu o ideólogo do MAGA.

“De agora em diante, serão eles mesmos os executivos
a cargo dos negócios do Estado, tornando-o uma parte
dos seus negócios, um pedaço de suas empresas.”

(ver A Oligarquia controla o Estado, 10/11/24) 

 

I

A cada vez mais extravagante figura de Donald Trump e os sobressaltos provocados por ele no início desse segundo mandato podem ter instigado em muitos de nós a sensação de estarmos convivendo com um autêntico prodígio – que na sua acepção clássica tinha o significado de um “evento fora do comum, incompreensível, surpreendente ou contra a ordem natural”. Trump seria um fenômeno dessa natureza, radicalmente novo na história do Império? É claro que sua própria imagem, tiques e poses teatrais catalisam as atenções com tamanha intensidade que esta imagem acaba por se tornar maior e eventualmente mais significativa do que realmente é, ao mesmo tempo que diferente e nova. Como se de fato fosse um inédito rebento parido pela história.  Um ser sem antecedentes e uma notória aberração. Não há dúvidas de que cheira a aberração, parece uma aberração e talvez nos agrade pensar ou dizer que se trata de uma aberração. “Não há nada parecido”, afirmou recentemente um renomado historiador da Universidade Rice, ao abordar um dos aspectos do recém-iniciado segundo mandato, os conflitos de interesses financeiros que envolvem a família do Imperador – e esse não seria o único. Apesar das aparências em contrário, nada mais enganoso. Trump é a quintessência do que poderíamos considerar americanismo, do que é ser autenticamente estadunidense e de como funciona, e desde sempre mais ou menos funcionou o tacão de ferro (para usar a expressão de Jack London no título do mais político e profético dos seus livros, publicado em 1908, The Iron Heel, onde o Estado é controlado tiranicamente por uma oligarquia capitalista). O ungido quadragésimo sétimo presidente é produto repetido da dinâmica imperial, e antes que se elegesse pela segunda vez para definitivamente assumir ares de Nero, já havia muito estava se constituindo como uma demanda irreprimível do meio ambiente no qual emergiu. O que talvez haja de particular é que essa persona adquiriu em Trump sua maturidade e se completou como imagem e representação do país que o elegeu – é claro, impregnado de passado, da história que o antecede.

II

As imagens da corte imperial visitando a monarquia absolutista da Arábia Saudita mostram os primeiros momentos de puro gozo do até agora caracterizado bobo da corte presidente estadunidense. Após posar como o esperto do pedaço ao impor tarifas draconianas para o comércio mundial, receber a reprovação sardônica e escancaradamente debochada até dos seus conterrâneos e levar o troco dos chineses, o recém-eleito necessitava desesperadamente de um momento triunfal. Nas fotografias da recepção oferecida pelo príncipe saudita para anunciar investimentos bilionários nos Estados Unidos o que aparece é um Trump tão à vontade e prazenteiro como se percorresse os corredores do seu palácio de Mar-ao-Lago. Eles e seus convivas, eleitos a dedo. Provocativamente eleitos. Numa delas, lá está ele, de novo, o homem mais rico do mundo, ele e mais ninguém além do Imperador e do príncipe anfitrião, num tête-à-tête deliciosamente íntimo e exclusivo. Homens de negócios, cuidando dos seus interesses privados – investidos da benção pública e do poder do Estado. São evocativas de uma época em que príncipes de distintos reinados promoviam luxuosas recepções e regalavam faustosos presentes para anunciar alianças e matrimônios arranjados. Entre os mimos oferecidos ao Imperador, um grandioso e ultramoderno Boeing 747-8 avaliado em 400 milhões de dólares e descrito como um palácio voador – “suítes privadas, salas de reunião, escritórios, espaçosas áreas de estar, chuveiros e acabamentos em madeira nobre, sofisticação combinada com tecnologia de ponta em comunicação, entretenimento e segurança”, descreve uma matéria de jornal, referindo-se à aeronave doada pelo emir Tamin bin hamad Al Thani, senhor absoluto da também monarquia hereditária do pequeno Catar.

III

Se acontecer de novo, como anunciado pela base católica trumpista e seu principal porta-voz Steve Bannon, esta não será a primeira vez. Já houve imperadores querelando e até mandando assassinar Papas – não se sabe evidentemente se os católicos fiéis eleitores de Trump chegarão a tal extremo, mas como parecem estar convencidos de que o mundo lhes pertence por direito de nascença, a eles somente e a mais ninguém, não havendo limites, é melhor recordar e deixar o alerta. A ameaça em tom de profecia foi lançada como um míssil intercontinental. “Dentro de dez anos haverá um cisma na Igreja Católica”, garantiu o ideólogo do MAGA. Se é verdade que ele não inventou a rebelião de príncipes, reis e imperadores contra a cúria romana, ao teólogo-mor da ultradireita estadunidense certamente não lhe desagrada a ideia de aparecer agora como o pai da criança. Nos subterrâneos do universo trumpista, a disputa pelo protagonismo entre os membros da nobreza (ou do clero) é imensa e feroz e Bannon, a essas alturas, deve estar inconformado com a repentina relevância do multibilionário sul-africano – disputam com ferocidade declarada quem ergue com mais vigor o braço direito da saudação nazista.

IV

Aproximadamente 19% da população dos Estados Unidos se identifica como católica. São uns 53 milhões de eleitores. Um número que tem se mantido estável pelo menos desde 2014. Parte significativa desses fiéis (36%) são de origem hispânica. Nas últimas eleições presidenciais, 56% dos votos católicos foram para Donald Trump, contra 41% para a candidata democrata – um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2020, quando Biden se elegeu com praticamente o mesmo número de eleitores católicos que seu oponente. A diferença entre as seis décadas que separam a eleição de outro notório católico para presidente, a de John Kennedy, é bem mais significativa. Em 1960, quase 80% dos católicos dos Estados Unidos votaram no democrata, em 2020, só 49% dos católicos votaram em Biden – “um católico muito mais devoto que Kennedy”, como anotou um atento observador da corte.

V

Se, por um lado, a política está cada vez mais contaminada por palavras, gestos e atos de sentido eminentemente religioso, muito mais por elementos de fé que por escolhas seculares e mais ou menos racionais, por outro, se torna cada vez mais importante a captura e o controle pelos políticos das multidões de crentes de todos os matizes e seus pastores. Mobilizar a fé para fazer dela o combustível do mando absolutista das instituições do Estado. Dois mundos que se aproximam perigosamente. A vítima dessa liga será antes de mais nada o próprio mundo moderno como o temos entendido até aqui.

 

publicação original:

https://terapiapolitica.com.br/catolicos-de-trump-anunciam-cisma-contra-o-novo-papa/

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